sábado, 14 de novembro de 2009
O Sonho de Um Homem Ridículo
Da peça que vi ontem, a adaptação de “O Sonho de Um Homem Ridículo” de Dostoiévski, me sobraram frases e imagens na cabeça. Um homem em busca de sentido e motivação e que se torna niilista e indiferente a tudo, inclusive às pessoas que se riem dele porque o consideram louco. No começo ele trabalha, cumprimenta as pessoas, age de acordo com as normas da boa educação e das banalidades impostas pelos costumes, faz o que aprendeu que se deve fazer para se viver em comunhão com seus semelhantes. Aos poucos vai-se desligando dessas convenções e descobrindo que nada disso lhe proporciona as respostas de que necessita. Não há resposta. Decide suicidar-se e abandonar essa esfera, acredita que o mundo se encerrará junto com o seu fechar de olhos. “O universo existe porque eu existo”, pensa ele. Até que uma experiência onírica causada pelo encontro com uma criança numa noite escura lhe traz o que ele chama de “a verdade”. Nesse sonho ele experimenta o paraíso, uma sociedade de homens belos, puros e bons que não conhecem a inveja, a dor, o desespero, a cobiça, a lascívia, o ciúme. Pela primeira vez na vida sente-se inundado de amor por outro ser. Depois de descrever em pormenores o que seria essa sociedade ideal, ele revela: “e no final... eu os perverti!”. Ele se torna a serpente, a semente do pecado original, o ser que introduziu na raça humana toda espécie de sentimento torpe. Ele ensina os homens-belos a mentir, e constata que eles gostaram da mentira. Numa enxurrada de palavras ele conta como as coisas se sucederam até chegar ao que somos hoje: a descoberta do medo, da dor, da escravidão, a separação em clãs e tribos, a defesa da até então desconhecida individualidade, o egoísmo, as guerras por melhores terras, a divisão entre o meu e o teu. Ele se sente extremamente culpado por ser a causa de tudo isso, e pede que o crucifiquem e até os ensina como. Ele os amava mais quando eram puros, mas não pôde escapar da própria natureza de corruptor. Ele volta desse sonho e se vê, agora na vida real, finalmente inebriado de amor e compaixão. Acha graça dos que riem dele dizendo que tudo não passou de um delírio; não sente raiva deles, somente tem pena pois eles não sabem a verdade. Decide não mais se matar. E continua...e continua...
terça-feira, 6 de outubro de 2009
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